As formas de representação de Nossa Senhora da Penha variam muito de lugar para lugar e a cada época. Por exemplo, a imagem primitiva da Espanha, que deu origem à devoção, difere da imagem da Virgem da Penha de Lisboa, que, por sua vez, é diferente das imagens do Santuário de Vila Velha - ES, do Rio de Janeiro - RJ, do Crato - CE, de Resende Costa – MG, de Itapira – SP e de outros tantos lugares que têm Nossa Senhora da Penha como Padroeira ou que cultivam essa piedade mariana de alguma forma. De maneira geral, entretanto, todas as imagens da Mãe da Penha representam-na com o Menino ao colo e com vestes e adornos reais, tais como o manto, o cetro e a coroa.
A imagem milagrosa e tricentenária trazida pelo viajante francês para a cidade de São Paulo e que deu origem ao Santuário e ao bairro da Penha de França também possui sua identidade iconográfica e suas particularidades.
Não sabemos com exatidão a procedência da imagem, sua datação e o artista que a confeccionou. Trata-se de uma escultura de madeira policromada e com detalhes dourados provavelmente do início do período barroco (brasileiro?), contando, seguramente, com mais de 350 anos. Ao longo desses séculos, passou por algumas restaurações e sofreu pequenas intervenções.
Em diversas ocasiões, a imagem deixou seu nicho, no antigo Santuário, para a realização de procissões, transladações até a Cidade, desfiles, homenagens e corações. Atualmente, encontra-se conservada em nicho seguro no presbitério da Basílica, exposta para a veneração dos fiéis. Para procissões e outras solenidades, utilizam-se réplicas.
A imagem que se encontra na Basílica da Penha tem cerca de 75 cm e representa a Virgem em pé, com feição bela e jovem e leve sorriso nos lábios, que expõe pequeninos dentes. O nariz é levemente arredondado. Os olhos são de vidro e de cor amendoada, e seu olhar exprime docilidade, segurança e solicitude maternal aos apelos de seus filhos – afinal, Maria, ao assumir a maternidade universal aos pés da Cruz, torna-se a grande intercessora dos cristãos, seus filhos adotivos. Seus cabelos castanhos, levemente ondulados, caem por seus ombros, deixando à vista suas delicadas orelhas, uma vez que Maria é a “Mulher da Escuta”, fiel à vontade de Deus.
Porque é Senhora do céu e da terra, Nossa Senhora usa vestes reais: uma túnica com tom esverdeado e repleta de detalhes em ouro, além de um manto azul escuro com bordas, rendas, flores e detalhes dourados, preso ao pescoço por uma espécie de broche ou diadema dourado com detalhes em vermelho. Ela também usa uma cinta na cor vermelha sobre a cintura. Não vemos seus pés, que são cobertos pela túnica. Como é próprio da primeira fase do Barroco, o caimento, o panejamento e as dobras das vestes não expressam muito movimento.
Outros atributos próprios da majestade de Maria são o cetro dourado, que carrega na mão direita, a coroa e o manto de tecido que a recobre da cabeça aos pés – elementos ofertados pela piedade popular desde o século XVII como forma de pagamento de promessas e expressão de gratidão, reconhecimento e louvor à Virgem. Várias coroas riquíssimas e incontáveis mantos das mais variadas cores e de diversos formatos, além de correntes, rosários ou cordões de ouro e prata ornaram a veneranda imagem milagrosa de Nossa Senhora da Penha ao longo séculos e fizeram parte dos valorosos tesouros e bens doados à Mãe de Deus nos séculos passados.
Maria está sobre o que nos parece ser uma rocha (penha) de cor escura. Sua postura indica prontidão. Na parte da frente da rocha vê-se a face de um anjo com grandes asas e cabelos cacheados. Não há pedestal, apenas uma base não muito grossa sobre a qual se encontra a rocha, símbolo de Cristo, a pedra angular (cf. Sl 118/117), nosso refúgio e proteção (cf. Sl 31).
No braço esquerdo, Maria carrega o Menino Jesus, que tem feição repleta de docilidade, inocência e pureza. Temos a impressão de que Maria nos mostra o seu Filho, como que querendo nos dizer, tal como nas Bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. O Menino veste uma túnica dourada, usa uma cinta semelhante à da Mãe e calça sapatinhos vermelhos. O Menino é Deus e Senhor e, por essa razão, impera sobre todo o universo. Essa realidade fica expressa pela coroa que traz sobre a cabeça e pelo globo que trás na mão esquerda: Cristo tem o mundo às mãos! A teologia presente nessa imagem revela que estamos nas mãos do Criador, somos dEle, nEle nos movemos e existimos (cf. At 17,28). Isso porque Jesus é a verdadeira penha, a rocha, a fortaleza, o terreno seguro sobre o qual devemos alicerçar nossa fé (cf. Mt 7.24-27).
Chama-nos a atenção a mão direita do Menino. Ela está estendida, como se quisesse pegar ou tocar em algo que lhe chamou a atenção. Seu rostinho também expressa que ele está se sentindo atraído por algo. Na verdade, Cristo olha para nós, desejoso de vir para nosso “colo”, isto é, nossa vida; quer tocar nossas feridas e encontrar aconchego em nosso coração. Sua Santíssima Mãe, à medida em que nos acolhe debaixo de seu manto, não hesita em oferecer-nos seu próprio Filho, que deseja estar conosco e em nós fazer morada.
Essa iconografia de Nossa Senhora da Penha de França da cidade de São Paulo – com o manto de tecido com forma triangular, coroa à cabeça, o cetro e o Filho às mãos e o anjo aos pés – cristalizou-se ao longo dos séculos em imagens, gravuras, estampas, santinhos, medalhas, fotografias, pinturas, vitrais e até em azulejos coloridos em igrejas e túmulos dos cemitérios e deu identidade a essa devoção de mais de 350 anos.